5.1.11

O olho Pinhole...

... e a imagem estenopeica na Natureza

A história da Fotografia, é a história da fotossensibilidade, que sob a forma de órgão “visual” surgiu há cerca de 500 milhões de anos, no período Câmbrico, com o aparecimento dos primeiros olhos rudimentares que evoluíram a partir de células pigmentadas fotossensíveis, que em vez de converterem a energia luminosa em energia química, como acontece na fotossíntese, converteram-na em energia eléctrica ou impulsos nervosos.
Estes “olhos primitivos” ou olhos punctiformes, eram constituídos à base de proteínas sensíveis à luz (a Opsina), que são comuns até no interior de alguns seres unicelulares, e distinguiam no ambiente a presença de luz da sua ausência, processo que está na origem da configuração biológica de ritmos orgânicos ligados ao ciclo dos dias – os ritmos circadianos, primordiais na constituição e proliferação de organismos complexos.
A fotografia nasce do apuramento da luta pela sobrevivência e da adaptação ao meio ambiente...
Existe ainda hoje uma forma de olho primitiva num animal: o olho estenopeico do molusco Nautilus, que evoluiu muito pouco desde o período Câmbrico.


Nautilus
imagem: Douglas Faulkner


Trata-se de um modelo de olho de transição, entre os olhos punctiformes, planos, de pigmentos fotossensíveis e os olhos tal como os entendemos hoje, com forma de globo e uma lente interna (o cristalino). O termo estenopeico (onde os anglófonos utilizam a palavra Pinholeburaco de alfinete ou buraco de agulha) aplicado à óptica, designa um processo no qual a luz entra numa câmara escura através de um pequeno orifício (o estenopo) e que tem a propriedade de formar uma imagem reflectida do exterior projectada no seu interior.
Este fenómeno de formação de imagens com raios de luz que atravessam pequenos orifício é um fenómeno natural, e acontece espontaneamente em certas condições: por exemplo, durante um eclipse solar, quando as condições de luz ambiente são muito mais baixas que as que se verificam durante um dia normal, a imagem do Sol eclipsado pela Lua pode ser vista em projecções naturais, sobre o chão ou nas paredes, devido à luz que passa através de pequenos orifícios que se criam entre as folhagens de uma árvore próxima.


Eclipse solar, imagens estenopeicas naturais, Outubro de 2005
imagem: Rui Cambraia

Muitos de nós já tiveram essa experiência mágica de ver imagens projectadas no tecto e nas paredes do quarto, ao acordar de manhã, formadas pelos raios de luz que atravessam os pequenos orifícios das persianas semi-cerradas. Entre o olho do Nautilus, as folhas sobrepostas nas ramagens de uma árvore, e os vultos em movimento na penumbra dos nossos despertares, a Natureza é fotográfica e as imagens estenopeicas naturais motivaram seres-humanos a empreender um longo processo de reflexão e investigação, de muitos séculos, entre artistas, filósofos, físicos e químicos, até ao anúncio oficial da invenção da Fotografia, em 1839 – o processo técnico através do qual se consegue fixar sobre um suporte, uma imagem projectada.
Cada fotografia pode ser assim entendida como uma imagem de subsistência, e ao contrário do que afirma Roland Barthes, fotografar é um acto pela vida...