17.12.08

Ilford Sportsman Pinhole 35

A transformação de câmaras fotográficas tradicionais em câmaras pinhole é uma possibilidade muito interessante em Fotografia. Mais do que a simples adaptação de uma câmara reflex, através da utilização da tampa do corpo furada em substituição da objectiva, trata-se aqui de construir uma câmara pinhole a partir de outra câmara fotográfica - operação essa que, normalmente, tem contornos definitivos e requer alguma disponibilidade para bricolage.
Na situação que apresentamos aqui, temos uma Ilford Sportsman 35 que nos foi oferecida por um comerciante de câmaras de ocasião, por estar avariada. Na verdade, a reparação desta câmara era improvável e mesmo que fosse possível, os custos não justificavam essa decisão.
Desta forma, uma câmara destinada ao lixo ou a ser desmantelada para peças, adquiriu uma função renovada e realiza imagens estenopeicas - 24 ou 36 por cada rolo 135...!


- A tampa da objectiva da câmara é a tampa de uma caixa de rolo fotográfico 135, fixada na sua posição com auxílio de fita-cola isoladora.


- Foram retirados todos os elementos ópticos da objectiva (as lentes, mas também o obturador e o diafragma), e colocou-se uma chapa metálica com um estenopo. A "distância focal" passou de 45 mm para 52 mm, o pinhole tem 0,304 mm, ou seja, corresponde a f 171.


- A chapa foi fixada com auxílio de massa autocolante, do tipo "Bostik" ou "U-tac", através de um cordão que envolve totalmente o diâmetro da mesma, pelo que, além de a fixar, impede a passagem da luz entre a chapa e os elementos da objectiva.


Castelo de Vide,
fotografia de João Augusto, Agfa APX 100, 1 seg. de exposição,
impressão em papel RC Ilford Multigrade, Dezembro de 2008.


imagens: Rui Cambraia

7.12.08

Pinhole no Inverno

Época baixa? Nem pensar...!

Não há épocas baixas em Fotografia. Cada época do ano, cada estado da meteorologia, tem as suas características próprias que são sempre apelativas fotograficamente: o tempo cinzento, o nevoeiro, as luzes artificiais (mais quentes) associadas às luzes naturais (mais frias), a neve, a humidade, árvores nuas, folhas caídas com cores improváveis, os céus carregados de nuvens extraordinárias e ocasos absolutamente magníficos. Há temas que talvez funcionem melhor que outros, mas há sempre assuntos fotogénicos no Inverno.
A fotografia pinhole não constitui uma excepção. Fotografar com papel, sendo a luz muito fraca com tempo nublado, pode conduzir a tempos de exposição demasiado longos; além disso, não sendo prático utilizar latas e caixas de madeira ou de cartão com tempo húmido, muitas vezes com vento, onde tudo está molhado e não podemos pousá-las em lado nenhum, a solução é fotografar com câmaras pinhole de película, ou SLRs de lentes intermutáveis onde substituímos a objectiva por uma tampa estenopeica.
Não é a mesma coisa que obtermos imediatamente uma imagem impressa com 18x24 cm, ou fotografias super-panorâmicas, entre outras possibilidades criativas da fotografia pinhole, mas, em contra-partida, podemos fazer 12, 24 ou 36 imagens de seguida (consoante o tipo de câmara que utilizarmos), revelar o rolo em casa e, no mesmo passo, fazermos provas de contacto, por exemplo, sem precisarmos de um verdadeiro laboratório de fotografia.
Perguntam-nos frequentemente que equipamentos são necessários para se montar um laboratório portátil ou provisório; a fotografia pinhole tem tudo a ver com isso:


- Câmaras pinhole de película: a Holga Pinhole 120 (à esquerda), e a Zero Image 2000 / 120 (à direita). Estas câmaras utilizam ambas película 120 que se encontra sempre em três lojas de Lisboa (Colorfoto, João Sousa Valles e Name Loja), ou à venda pela Internet. Ambas fazem imagens 6x6 cm (12 fotografias), sendo que a Holga pode fazer também imagens 6x4 cm (16 fotografias). O tripé é um acessório barato e recomendado.


- Câmara reflex de lentes intermutáveis (SLR), totalmente manual. Na imagem pode observar-se a tampa pinhole do corpo da câmara, que substitui a objectiva tradicional. O estenopo (o furo pinhole) foi realizado na chapa metálica redonda; esta foi depois colada à tampa, centrada sobre um orifício um pouco maior que o estenopo da chapa. Na falta de uma tampa original, pode-se recortar uma chapa redonda com o diâmetro do encaixe da baioneta, e fixá-la, provisoriamente com um cordão de massa adesiva "bostik" - que não deixa qualquer resíduo depois de retirada. O cordão de "bostik" tem também a função de impedir a entrada de luz entre a chapa e a baioneta; atenção portanto a este detalhe...!


- Químicos de processamento para papel e película. Na imagem há dois químicos opcionais: o banho de paragem (ou banho de "stop") e o agente de lavagem final; no entanto, apesar de ambos poderem ser substituídos por água simples, recomenda-se a utilização destes líquidos. Há também reveladores que servem simultaneamente para papel e película, e, nesse caso, os químicos imprescindíveis para trabalhar em casa, de forma simples e artesanal, limitam-se a dois (revelador e fixador) e não aos cinco aqui apresentados.
Na imagem mostra-se ainda um rolo de película 135 (Rollei Retro 400) e um rolo de película 120 (Kodak Tmax 100), onde se pode apreciar a diferença de largura entre ambos (35 mm Vs. 60 mm).


- Equipamento de base para um laboratório portátil: dois iluminadores vermelhos portáteis, com ficha eléctrica e interruptor, cujas lâmpadas são fáceis de substituir caso se fundam; quatro cuvetes 18x24 cm; um pack de três pinças, copos medidores e um tanque de revelação para película. Com este conjunto é possível fazer processamento de película e papel fotográfico em qualquer local que se possa isolar da luz (casa de banho, arrecadação, dispensa, etc.). Poderemos assim realizar fotografias pinhole, fotogramas, provas de contacto (para as quais é necessário ainda um vidro e uma fonte de luz branca intensa) e revelação de películas. As luzes vermelhas podem adquirir-se nas mesmas lojas, anteriormente referidas, e talvez ainda em algumas FNAC.

O preço dos químicos e do equipamento básico de laboratório rondará os 100 Euros (incluindo os iluminadores vermelhos), comprados separadamente. Em kit existem conjuntos mais completos ao nível dos equipamentos, mas sem químicos e sem luzes, em torno dos 75 Euros.

imagens: Rui Cambraia